Uma cmera, uma ideia e um cineasta do interior de MT rodando o mundo ao lado de um Cateto 565k2f
Leandro Peska conversou com o Leiagora e falou sobre as filmagens do seu mais novo curta-metragem que j foi selecionado para quatro festivais mundo afora e ainda contou como fazer cinema no interior do Brasil 1ey26
Era uma vez um rapaz nascido em Cceres (212 km de Cuiab) que sempre foi apaixonado por cinema. Aos 18 anos esse jovem resolveu pegar uma cmera de mo e ir para o Rio de Janeiro cursar a faculdade de Cinema na Estcio de S. Depois de formado, ele colocou uma mochila nas costas e foi at Nova York fazer uma especializao em direo cinematogrfica pela Academia de Cinema de Nova York. Encerrado o curso, ele resolve voltar para Cceres onde fez um mestrado em educao pela Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat).
Esse um pequeno resumo do currculo de Leandro Peska, um cineasta de 34 anos com trs filmes j lanados e que atualmente est rodando o mundo com seu mais novo curta-metragem, “Cateto”.
Em uma conversa descontrada, o diretor falou com Leiagora sobre o sucesso do filme. Ele aproveitou e resolveu contar um pouco sobre como fazer cinema no interior do Brasil e como foi a produo deste filme que anda encantando o pbico mundo afora.
Confira a entrevista na ntegra:
Leiagora- Primeiro vamos falar sobre o filme em si. Ele um filme forte, com cenas fortes. Mas uma cena que vemos todos os dias, em qualquer stio do Brasil. De onde veio a ideia pra filmar o Cateto?
Leandro - O cateto foi mais uma coisa de momento. No foi algo pensado, planejado anteriormente. Eu estava na propriedade rural dos meus avs na poca. O filme de 2021, mas eu filmei h dez anos atrs. Eu estava ali ando fim de ano e tinha ali a minha cmera, meu equipamento, algumas lentes e eu fiquei sabendo que iriam fazer o acontecimento do filme. E a eu falei “bom vou filmar”. No sei porque me deu isso, e eu decidi filmar aquele acontecimento diferente do que o nu e cru me apresenta. Ento ele foi filmado todo em preto e branco, com a maioria dos seus planos em cmera fixa. Se no me engano tem um plano que cmera na mo que tem um pouco mais de movimento ali. Mas a ideia era estar distante mas, ao mesmo tempo, estar presente, quase como se fosse encenado.
Apesar de ser um filme violento por conta do que acontece no filme, violento pra como voc falou, pra quem no daquele cotidiano. Mas pra quem vive aquilo, s um trocar de pneus de carro, mais nada. Est feito e vamos pro prximo. Os enquadramentos, modstia parte so muito bem pensados, plasticamente falando eles tm uma beleza cruel por assim dizer. E por no ter dilogo, eu acho que o choque maior. Porque a gente sabe como o ao vivo e a cores, mas como a gente est sendo apresentado por um preto e branco, pela ao em preto e branco, eu acho que a nossa cabea faz uma projeo do que seria o ao vivo em cores. Teve at pessoas que me perguntaram se eu no tinha filmado de maneira colorida, o que seria o usual e a feito a edio, a saturao pra preto e branco. Eu disse que no, que a minha inteno era filmar em preto e branco e eu no editei esse material.
Leiagora - E por que o filme ficou tanto tempo parado?
Leandro - Eu acho que por conta do assunto dele. Querendo ou no uma coisa delicada. Tranquilamente voc pode fazer uma leitura errada do filme, e a, consequentemente, fazer uma leitura errada de mim.
Leiagora -Voc teve medo de lanar? Teve medo de ser julgado?
Leandro - No sei. No sei nem se isso. A minha dvida era: “pra quem que eu vou mostrar isso?”. Para quem eu vou mostrar isso para que a pessoa veja isso enquanto filme, no quanto o ato em si. Como ele pra mim muito bonito esteticamente falando, mas ao mesmo tempo ele muito cruel. Ento isso me dava um certo receio. Um certo receio porque ele destoa completamente dos filmes que eu lancei. Volta e meia eu voltava nesse material, mostrava pra algumas pessoas prximas e a depois de mostrar pra algumas pessoas prximas, a resposta era mais ou menos a mesma: "de que era cruel e tudo”, mas que alguma coisa elas tiravam daquele filme.
Leiagora - Sobre a produo do filme. Eu queria que voc falasse um pouco sobre a equipe que te deu esse auxlio pra fazer o filme
Leandro -Isso fcil. a famosa “Euquipe”. Eu filmei, eu editei, eu dirigi, eu s no fiz a arte grfica, o poster que eu paguei pra fazer s isso. Fui eu que estava ali no momento, eu fiz a fotografia, depois fiz a edio e consequentemente sou o diretor. O filme realmente de uma pessoa s.
Leiagora - Afinal, em qual categoria do cinema est o Cateto? terror? um documentrio?
Leandro -A gente faz esse processo de categorizar o filme por conta do que a norma do mercado pede nos festivais. Pra mim ele um documentrio. Porque ele retrata um algo, entre aspas, real. Mas eu acho que ele tambm pode ser considerado um primo, um pouco distante, do experimental. Eu acho que vai muito ao encontro da mensagem que o filme a quando ele assistido. E essa mensagem muda de pessoa pra pessoa. Porque o filme pode ser tanto uma crtica social, j me falaram isso. Pode ser uma crtica ao consumo de carne. Pode ser uma crtica como a gente lida com a natureza. Pode ser um grito ao veganismo. Ento pode ser um filme de terror tambm. Eu acho que a maior virtude do filme essa mltipla possibilidade de acordo com quem assiste. Quem assiste e vai refletir o que importante. Tem gente que veio me falar, por exemplo, que o filme Cinema Novista do cinema novo dos anos 60 de Glauber Rocha. E isso nunca ou pela minha cabea, sequer prestar uma homenagem. Obviamente se voc for fazer uma leitura analtica do filme, realmente, at o prprio poster, cinema novo tranquilamente. Mas nunca me ou pela cabea. Foi uma coisa sem planejamento. Foi algo do momento. Por isso que eu falo que o Cateto um filme do momento.
Leiagora - O filme foi indicado para alguns festivais n?
Leandro - Ele comeou a trajetria no ano ado, no segundo semestre do ano ado em que eu inscrevi ele em alguns festivais, dentre eles o Cine Urutu um festival do interior de So Paulo. E ali ele teve sua primeira seleo. Ele concorreu numa categoria de melhor edio. Foi inclusive algo indito pra mim, eu nunca tinha tido um projeto que concorresse a um prmio especfico de melhor edio e pra mim foi muito significativo porque o filme de certa maneira ele construdo todo na edio. E a depois disso eu me animei porque eu consegui participar do festival e inscrevi em mais festivais e como ele no tem dilogos facilita porque eu consegui fazer inscrio em vrios festivais internacionais. No comeo desse ano eu comecei receber as respostas das inscries que eu tinha feito ali em novembro, dezembro. Primeiro ele foi selecionado pro Rofife que um festival l da Turquia, onde concorreu na categoria de melhor documentrio um festival que acontece h uns 14 anos se no me engano. Depois ele tambm foi selecionado pra um festival que acontece na Inglaterra que se chama Sessions by Lift-Off Global Network, que um festival que traz novos cineastas que no digiram ou que dirigiram pouco. Ver o filme entre outros filme do mundo inteiro assim uma sensao bacana.
Logo depois eu recebi outras duas de aceitao. Um festival de cinema independente da Grcia, que de um clube de arte que existe l que faz o seu festival de cinema independente tambm de maneira virtual e presencial e tambm em um outro festival chamado One Earth Awards, que na ndia. E esse tambm um festival que completamente presencial e eles meio que selecionam e mostram isso pra um pblico fechado e a eles mostram pro grande pblico
Leiagora - Quais so os seus prximos os?
Leandro - Como eu fao por uma plataforma na internet ento eu consigo fazer inscrio de um mesmo projeto em vrios festivais de cinema. Minha inteno seguir com isso. Se aparecer mais festival, talvez eu inscreva, mas a minha ideia esperar esse momento de festival at mais ou menos agosto, setembro que foi quando eu lancei o trailer do filme no YouTube. Depois disso eu acho que provavelmente vou fazer um lanamento dele online s no descobri como porque ele tem classificao indicativa de dezoito anos
Leiagora - Como trabalhar com cinema, em Cceres, no interior do Brasil?
Leandro -Acho que o mesmo desafio que todo artista tem no Brasil. Quanto mais voc est distante dos grandes centros, maiores so as dificuldades. Fica mais difcil porque voc tem menos profissional pra te dar e. Voc tem menos possibilidade de equipamento. Ento, por exemplo, se eu precisar alugar uma lente especfica uma cmera especfica ou at um drone especfico, o lugar mais prximo que eu vou achar Cuiab. E um perto que longe. Ento a dificuldade nesse sentido, de ser uma cidade pequena do interior do interior, apesar de j ter bastante gente que tem experincias aqui em audiovisual tem um pessoal que est comeando aqui tambm a fazer algo mais profissional. Ainda tem muita mstica, porque tem pouqussima gente que faz, fica parecendo aquela coisa de outro mundo e na verdade no . Por esse lado muito ruim, s que por outro lado voc acaba desenvolvendo habilidades que talvez num centro maior voc no desenvolveria. Entende? Porque aqui o meu olhar ele no pode ser s um olhar de diretor ou de fotgrafo, mas eu tenho que ter um olhar de tudo, porque eu que fao tudo na maioria das vezes. Ento, nesse sentido, eu acho que a minha sensibilidade muito maior. s vezes cansa um pouco n? Tem que se virar demais. Pra conseguir os projetos e acaba que muito projeto que eu tenho projeto fracassado. Agente acaba uma criando uma crosta meio grossa porque voc pensa em fazer muita coisa e a cabea acaba no parando, voc recebe muito no e voc tambm tem muito fracasso prprio sozinho.
Leiagora - Mas isso um desnimo ou uma fora?
Leandro -Eu acho que um pouco dos dois. Porque assim, independente do projeto voc coloca sangue ali, entendeu? Ento, quando d certo a sensao muito boa. Quando no a voc tem que tentar levar pelo lado positivo porque a voc aprende quando erra. E tambm se d um parabns assim de levinho pra continuar seguindo
Leiagora - Quando que ns vamos assistir o Cateto? Quando que ele vai lanado?
Leandro -A perspectiva segundo semestre desse ano. Talvez mais prximo do fim ano. Mas eu ainda no descobri como fazer o lanamento, talvez eu faa uma sesso com outros filmes juntos e a coloque classificao indicativa de dezoito anos, porque essa a classificao indicativa do Cateto. Mas a minha vontade colocar ele na internet porque a facilita a visualizao das pessoas. A grande maioria dos festivais, pra no dizer todos, quando voc inscreve um filme, seja ele documentrio ou fico, o festival diz l que uma das condies que ele no esteja ao o do pblico. Ento ele no pode estar por exemplo no YouTube, ou ele no pode fazer parte de um catlogo de Netflix da vida, para que o festival se interesse pelo produto que naquele perodo de tempo do festival o produto seja, entre aspas, exclusivo do festival. Por conta disso, como eu ainda tenho uma expectativa de ser aceito em outros festivais, eu no posso fazer esse lanamento pblico do filme ainda.
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